Luiz Gonzaga, o porta-voz da cultura marginalizada do nordeste

Luiz Gonzaga como muito bem o colocou Gilberto Gil:” Foi o primeiro porta-voz da cultura marginalizada do nordeste.”Sem dúvida o responsável pela introdução da cultura nordestina no sul do país.Nasceu em Exu, Pernambuco, em dezembro de 1912. Se fosse vivo estaria completando cem anos. Após levar uma surra do pai, ao brigar numa festa, caiu no mundo e se alistou como voluntário no Exército.  Virou corneteiro dos bons:” O Bico de Aço.”Deflagrada a Revolução de 30 foi parar no Rio com  a tropa.

Em 1939 deu baixa e começou a tentar a vida artística, peregrinando pelos programas de calouros  e levantando uma graninha, apenas como sanfoneiro, sem cantar. Esse era seu sonho .Sobrevivia também com os trocados que arrecadava tocando e cantando músicas tradicionais latino-americanas. Nada de sua terra. O encontro com um grupo de estudantes nordestinos , entre eles o ainda jovem Armando Falcão, fizeram-lhe um desafio: se seria capaz de compor e mostrar-lhes coisas do nordeste Falcão  confirma:”  Falei para ele, tocando bem desse jeito, mas tocando tango não dá.” Tempos depois surpreendeu –os com “Meu Pé de serra”, que adoraram e passou a tocar com frequência na república onde moravam, filava a boia e ainda faziam uma vaquinha para ajudá-lo.. E assim ia levando. Como não conseguia gravar cantando entregou para o” Rei das Emboladas”, Manézinho Araujo, uma música do folclore mineiro que adaptara Dezessete e Setecentos

Eu lhe dei vinte mil réis
Pra tirar três e trezentos
Você tem que me voltar
Dezessete e setecentos.

”Não gostou da interpretação do colega e resolveu ir em frente. Insistiu e em 1947 veio a consagração com “A Moda da Mula Preta.”

Eu tenho uma mula preta
Com sete parmo de artura

Em 1947 , surge um hino, ao burilar a melodia de música que seu pai o velho Januário tocava nos seus oito baixos em Exu (Luiz, respeita Januário…/ Respeita os oito baixos do seu pai)”Asa Branca.” Teve a sorte de encontrar o advogado cearense Humberto Teixeira, que criou a inspirada letra.. No dia da gravação, no estúdio, os músicos que o acompanharam não gostaram da composição. Dominguinhos conta uma história engraçada quando de sua visita junto com Gonzagão ao pai deste. Lá pelas tantas todo mundo começou a tocar. Luiz caprichou em “Asa Branca”. O velho Januário aproximou-se dele e apontando para o filho entregou: “ Esse neguinho roubou essa música de mim.”Tem mais história.

Com a chegada da bossa nova e a Jovem Guarda, Gonzaga foi esquecido. Aí surgiu um salvador na figura polêmica e ladina de Carlos Imperial que quando o apresentador do Repórter Esso na TV Tupi lhe pediu uma notícia fresca, sabe-se lá porque Imperial soltou a bomba:” Gontijo , eu tenho um furo de reportagem pra você : os Beatles gravaram “Asa Branca”. Cascata pura do Gordo, mas causou enorme burburinho e Gonzaga voltou às manchetes, sem saber que era uma jogada de Imperial, até que este preocupado com a repercussão , com medo de ser desmascarado, contou a verdade e sugeriu que a imprensa ficasse sabendo. O sanfoneiro refugou : Você está maluco? Nada disso, me deixa continuar, estou fazendo muito show. Logo agora que o dinheiro voltou a entrar?” Pouco  mais tarde saía de vez do limbo regravado por Gil, Caetano e Vandré.Nada mais justo para quem reinou absoluto de 1945 a 55 .

Além de Humberto Teixeira teve outros parceiros competentes  como Miguel Lima ( A Mulher do Lino/ Cortando pano) , o médico pernambucano Zédantas ( Cintura Fina/ Acauã/ A Volta da Asa Branca/Vozes da Seca) Hervê Cordovil (Vida de Viajante que o acompanhou a vida inteira) Chico Anízio ( Dia dos Pais)..  Entretanto a grande jogada foi a “ invenção do baião” em 1953, gênero que correu mundo.. Foi um artesão múltiplo, gravando e compondo  canções natalinas, juninas, choro, marzukas, toadas, xótis, valsas ,calangos, rojões.

Como político sempre foi, digamos, pragmático de direita. Palavras suas:” Nós os nordestinos somos muito leais e gratos a quem faz alguma coisa pela gente…É o governo que manda coisa para o nordeste. O s homens do PSD são os mais simpáticos. Os governantes é quem têm o poder, portanto para conseguir algo pro meu povo tenho que estar com eles.”  . Essa sua posição proporcionou brigas homéricas com o filho Gonzaguinha , que tinha tendências esquerdistas. Na década de oitenta se acertaram e viajaram juntos para shows inesquecíveis.

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