Quero chorar, tenho lágrimas

Se misturarmos num caldeirão os filmes mexicanos da década de 50, “Suplício de uma Saudade”, “Love Story”, as novelas cubanas, o Grand-Guignol, os livros “Coração”, “A cabana do Pai Tomáz” e “Dama da Camélias”, a estranha beberagem séria, garanto, menos lacrimogênica que as letras de canções brasileira que vamos carpir aqui. Comecemos pelos clássicos. O mais famoso sem dúvida é o “Coração Materno”. De Vicente Celestino, regravado por Caetano Veloso. A história é horripilante: a amada do campônio numa brincadeira sádica pede-lhe o coração da mãe como prova de amor e o debilóide cumpre ao pé da letra:

E ela disse ao campônio a brincar
Se é verdade tua louca paixão
Parte já e pra mim vá buscar
De tua mãe inteiro o coração
E a correr o campônio partiu
Como um raio na estrada sumiu
E sua amada qual louca ficou
A chorar na estrada tombou
Chega à choupana o campônio
Encontra a mãezinha ajoelhada a rezar
Rasga-lhe o peito o demônio
Tombando a velha aos pés do altar
Tira do peito sangrando
Da velha mãezinha o pobre coração
E volta, a correr, proclamando
Vitória! Vitória tem minha paixão.

Os últimos versos são de arrepiar e capazes de estarrecer qualquer cirurgião cardio-vascular:

Mas em meio da estrada caiu
E na queda uma perna partiu
E à distância saltou-lhe da mão
Sobre a terra o pobre coração
Nesse instante uma voz ecoou:
Magoou-se pobre filho meu
Vem buscar-me filhinho, aqui estou
Vem buscar-me que ainda sou teu.

Muitos leitores poderão estranhar a ausência de “O Ébrio”, do mesmo Vicente. Eu explico: é que o drama do infortunado beberrão pareceria um conto de fadas diante do rol de dramalhões que farei desfilar aqui. Pelo mesmo motivo os saudosistas não encontrarão “Brinquedo do Destino”, “A Pequenina Cruz do teu Rosário”, “Lamentos” e outras. Mas o na vida real pacato e abstêmio Vicente não se sentirá desprestigiado com a omissão. Mostro seu tango “Matei”, um primor de vicissitudes. Conta o drama de um bom samaritano que recolheu “uma mulher doente, faminta e quase morta”, cuidou dela e acabaram por se amar. Um dia a ingrata se arrancou com o outro e ele ficou desesperado: “dormia nas sargetas, tal qual um cão sem dono.” O epílogo não é mole:

Farto de sofrer fui procurar um amigo
Como último recurso fui lhe pedir abrigo
Negou-me e disse-me ainda: jamais o conheci
Virou-me então as costas quando uma voz eu ouvi
Reconheci ser dela, na casa entrei à força
Matei o falso amigo e a mulher que amei
Estou arrependido, não terei mais conforto
E desde aquele instante eu sinto que estou morto.

“Romance da Ceguinha” de René Bittencourt narra o reencontro de um sujeito com a mulher com quem tivera um romance. Quando a abandonou ela ficou cega! Tempos depois, oh irônico destino, tornaram a ficar frente a frente  e o mais inverossímil é que ele não a reconheceu. Só depois que a infeliz desfiou sua desdita ligou os fatos. (Seria deficiente visual também?):

Fitando bem aquele meigo rosto
Reconheci aquela a quem amei
Aquela a quem causei tanto desgosto
E que a sofrer no mundo abandonei
Caí-lhe nos pés, pedindo-lhe perdão
E ela a sorrir me perdoou.

Pelo menos houve o happy-end. Outra azarada surge na composição de Uriel Lourival, Pasmem, ficou caolha por ciúmes de Jesus!

Jesus quando te viu
Não sei o que sentiu
Não viu uma só luz
Como a luz dos olhos teus.
Indignado, então
Na natureza entrou
Repreendeu o sol, estrelas apagou
E ardente de paixão
Vingou-se como um Deus
Roubando a luz de um dos olhos teus!

“Coração de Luto”, do gaúcho Teixeirinha causou comoção e gozação. Os conterrâneos do autor cantaram-no com lágrimas nos olhos enquanto nos outros Estados era batizados de “Churrasquinho de Mãe”. Dizem ter sido baseado em fato real:

O maior golpe do mundo
Que eu tive na minha vida
Foi quando com nove anos
Perdi minha mãe querida
Morreu queimada no fogo
Morte triste e dolorida
Que fez a minha mãezinha
Dar adeus de despedida

Seria a mãe paralítica para se deixar queimar doloridamente? Denso mistério. Falando em paralisia mostro esta pérola que é “Aleijadinha”. De Francisco Lacerda e Bob Jr.:

Quando ainda era criança
Já notava em sua infância
Sofrer um grande amargor
Aleijada a coitadinha
Arrastando uma perninha
Padecendo grande dor.

Apareceu um namorado que custou a descobrir que a amada era manca, pois ela namorava na janela. Levou-a então a um médico mas deu zebra:

Mas o esforço foi em vão
Que na sua operação
A coitadinha morreu

“Milagre do Retrato”, de Calandro e Sulino elege mais um deficiente físico. Um garoto perde o avô querido e perde também os movimentos (seria histérico o pobrezinho?), mas ainda teve mais sorte que a aleijadinha operada:

Mas quando ele fez dois
Meu velho pai faleceu
O menino sentiu tanto
Que também adoeceu
Com a tal paralisia
Certo dia amanheceu
Não podia mais andar
Suas pernas enfraqueceu

Como o menino chamava pelo avô o pai deu-lhe o retrato, com o qual batia papo:

Volte de novo pra mim
Meu querido vovozinho
Depois que o senhor foi embora
Eu fiquei aleijadinho.

E para encerrar, sabem o que aconteceu? Miracolo! O garoto saiu andando e o retrato chorou!

Pelo quarto ele andou
Daquela fotografia
Duas lágrimas brotou.

Como até agora só deu estropiado vamos a mais uma: “Calvário” letra de Márcio Rossi que trata de um tuberculoso que tem como último desejo beijar a mãe mas receia transmitir-lhe a doença:

Sobre uma cama carcomida, parecia
Com a tristeza das mais tristes prisões,
Ele rolava o dia inteiro, prisioneiro,
Do mal terrível, que roía os seus pulmões
Tão moço ainda e não vivia e nem morria
Num meio termo de cortar o coração
E quando a tosse o visitava, desfolhava
Rosas de sangue, ainda quente, pelo chão.
Era o seu íntimo desejo dar um beijo
Numa velhinha que lhe dera o próprio ser
Mas tinha medo de beijá-la e condená-la
A sofrer tanto quanto ele, até morrer.

Hão de convir que “meio termo de cortar o coração” é um achado. Amado Batista em “Amor Batista em “Amor Perfeito” vai assistir o parto da esposa e só podia dar desgraça:

No hospital, na sala de cirurgia
Pela vidraça eu via
Você sofrendo a sorrir
E seu sorriso aos poucos se desfazendo
Eu vi você morrendo
Sem poder me despedir.

“Flor do Mal”, primeira gravação de Vicente Celestino é um festival de xingação. Inicialmente o autor pede até com bons modos para ser esquecido, mas de repente se esquenta e baixa o nível:

Ah, hipócrito, fingido coração
De granito ou gelo, maldição
Oh espírito satânico, perverso
Titânico chacal do mal
Num lodaçal imerso.

O alvo dessas ofensas todas não é fruto da imaginação. Trata-se da atriz Arminda Santos, e o letrista, o poeta Domingos Correia se apaixonou por ela, não foi correspondido e no seu desvario pôs fim à vida. Mas antes desabafou… Teve seguidores em seus impropérios zoológicos. Silveira e Silveirinha não ficam atrás com “A víbora.”:

Tu és a cobra venenosa e maldosa
Tu és a víbora do pecado mortal
Tu és a sanha da tentação e maldade
Tu és pecado original
Tu és cobra silenciosa e preguiçosa
És serpente de uma maldição de dor
Fui esmagado no seu bote de artimanhas
Dizendo a mim que me amava de verdade
Eu dei-lhe tudo, meu amor e meu dinheiro
Deixei-lhe tudo, meu amor e meu dinheiro
Deixei meus filhos perdendo a dignidade.

“Perdão Emília”, um clássico da modinha conta a visita de um ex amante ao túmulo da companheira que se suicidara:

Perdão Emília se roubei-te a vida
Se te fui impuro, infiel ousado
Perdoa o vil que te atirou ao pó
Perdão Emília, para um desgraçado!

O reconhecimento do mau-caratismo não adiantou muito, o fantasma de Emília saiu do túmulo e desancou-lhe:

Monstro tirano pra que vens agora
Lembrar-me as mágoas que por ti passei?
Fui nesta vida sem te amar, ditosa
E desgraçada desde que te amei.

Parece que sua metralhadora verbal é poderosa, pelo que dizem os últimos versos:

E um baque surdo se ouviu na terra
Acompanhado de uma agudo ai
Enamorado do descanso eterno
Mais uma vítima encerrar-se vai
E quando alegre foi surgindo o dia
E a natureza se mostrava bela
Frio cadáver ali estava
Caído junto ao sepulcro dela.

Será possível ser “enamorado do descanso eterno?”. Tem gosto pra tudo. Em “O Castigo da Cruz”, de José Fortuna e Mairoporã, aparece outro fantasma. Um boiadeiro herege tinha a mania de arrancar cruzes da estrada e também não podia ver uma vela acesa. Certa noite o profano se estrepou quando quis derrubar uma cruz:

Quando  tentou arrancar, no braço da cruz pegou
Aquela cruz de madeira num homem se trasnformou

Agora vem o melhor: o vulto deu-lhe um carão paternal:

O vulto falou: meu filho não pratiques isso mais
Você tentou arrancar a cruz de seu próprio pai

O boiadeiro, é lógico caiu duro e quando voltou a si virou o maior carola:

Para a alma do seu pai ele fez uma oração
E se encontra uma cruz rezando perde perdão

O trânsito louco não podia ser um tema excluído. Comecemos pela “Carreta Maldita” cujo título mais apropriado seria “Carreta Desalmado”, de Nelson Blanc em Maury Câmara:

Não reparem se estou chorando
Eu não esqueço o que aconteceu
Naquela casa à beira da estrada
Foi onde o meu amor morreu
Na frente ela fez um jardim
Lindas flores vivia plantando
Na descida a carreta veio
E estava sem freio e a ela atropelou
Carreta maldita
Que triste cena
Matou o meu amor
Dele não teve pena

Só faltava ir tomar satisfação com a carreta. Outra desgraça motorizada é “Boletim Escolar”, de Vicente Dias e Rubens Avelino: o menino chegava da escola trazendo o boletim, vê o pai do outro lado da rua,
atravessando afoito e…

Mas o destino cruel
Neste momento fatal
Meu filho na correria
Não viu fechado o sinal
E a brecada do carro
Me fez perder os sentidos
Vendo tombar sob as rodas
Meu inocente querido

Não sei como conseguem ser tão trágicos. Continuemos com o morticínio. “Triste Ocorrência” de Jack e Abel. O rapaz saiu do interior para ser polícia na cidade grande mas nunca mais deu notícia à família. Passaram-se os anos, o pai enviuvou e resolveu procurar o filho sumido. Eis o que aconteceu:

E na cidade em que o filho morava
Morreu o velho em um atropelamento
O policial que foi investigar o caso
Ficou surpreso quando viu os documentos
Nas remoção daquele corpo já sem vida,
Banhando em prantos confessou (?) ao delegado
“Estou fazendo a mais triste ocorrência,
Pois este homem é o paizinho adorado.”

Ora faça-me o favor, o cara desaparece no mundo, não reconhece o próprio pai estatelado no chão e ainda “se banha em prantos?” Atropelamento insólito se dá em “História de um boiadeiro”. O rapazola deixa a casa paterna e volta anos depois comandando uma boiada. De repente dá-se um estouro e os animais pisoteiam uma pessoa que caminhava. Já adivinharam quem era?

Quando a boiada passou
Dei um grito de aflição
Ao ver que era minha mãe
O andante do estradão
Já na última agonia
Mas me deu sua benção
Vi morrer nos meus braços
Minha mãe do coração.

Outra fatalidade se desencadeia em “Lágrimas de Pai”. Um pobre lixeiro do interior mandou durante 26 anos dinheiro para o filho estudar na capital e ser advogado (ou o cara é meio tapado ou explorou o pai). No dia da formatura compareceu todo empolgado e veja o que aconteceu:

O doutor vendo seu pai
Fez que não o reconheceu
Essas palavras do filho
Pro velho muito doeu:
Vá embora, vá embora
Se o povo o vê assim,
Cabeludo, mal vestido…

O velho saiu em prantos e virou mendigo:

Mendigando viu findar os dias seus
E, um dia, um desastre na cidade,
O velho acabou de padecer
Apanhando pelo trem, pobre velhinho
Sobre os trilhos acabava de morrer!

Mas não acabou, o velho panaca antes de findar ainda falou: “num sorriso, encobrindo a própria dor”.

– Deixo a vida satisfeito por que pude
Assistir a meu filho ser doutor!

O Vicente foi outro que saiu de sua cidadezinha para aventurar-se na capital, só que virou bandidão mas com resquícios de amor filial, pois mandava dinheiro para o pai. Um dia chega às mãos do velho que era analfabeto, um jornal com a foto do filho na primeira página. Levou para um amigo ler e só então ficou sabendo que peça criara:

O velhinho envergonhado sumiu povoação
No outro dia cedinho, na beira do ribeirão
Encontraram o velho morto, com aquele jornal na mão
A vergonha estraçalhou seu honesto coração
Quem matou o pobre velho foi a palavra LADRÃO!

A guerra excerce um fascínio muito grande nos compositores. Dois bons valores da música caipira, Tonico e Capitão Balduíno cantam “Vingança de Soldado”. Este sobreviveu à luta mas no seu retorno à Pátria levou chumbo de outra forma.

Tava o doutor delegado
Na sua mesa sentado
Quando um homem ali chegou
O moço vinha fardado
Mostrando que era soldado
A sua história contou.

O herói contava com alguém esperando-o na volta, só que parece não ter se
lembrado de avisar:

Na guerra tive vitória
Ganhei medaia de glória
Tive prêmio de Nação
Daquela que em frente o artá
Jurou o meu nome honrá
Ganhei vergonha e traição
Me prenda seu delgado
Pode chamá seus soldado
Lhe entrego o rife doutô
Este sabre que na guerra
Lutou pela vossa terra
Hoje matô dois traidô.

Outra composição agora de Praense e Sebastião Araújo dá continuidade ao tema com a mesma falta de originalidade. O pracinha pensa que a noiva o espera mas ela casa com outro. Quando volta sai à procura dela e vai indagar ao próprio marido se a conhece, mostrando-lhe o retrato O homem fica epumando:

O homem vendo o retrato, louco, enciumado ficou
Arrancou um punhal e no Pedrinho cravou,
Porém foi preso na hora que fez tal desatino
Mandaram chamar Maria, a esposa do assassino
Maria, ao ver o cadáver, triste golpe recebeu
Caiu pedindo perdão a quem por ela morreu!
Abraçando o corpo inerte de quem tanto lhe quis bem
Beijando os lábios gelados deixou a vida também!

Pensaram que acabou a saga militar? Eu vos apresento “Sêlo de Sangue”, drama epistolar do combatente sádico que na carta à amada mandou que ela tirasse o selo e guardasse como lembrança:

Tirou o selo e por baixo
Com sangue viu assinado:
“Estou sem as duas pernas
Num hospital internado”.
Lurdinha por seu bem amado
Pra que Deus mandasse ele,
Mesmo que fosse aleijado.

Fiquei impressionado com o tamanho do sêlo. O Pessoal parece fissurado pela guerra. São composições relativamente recentes, quando o conflito já acabou há 47 anos! “Cruel Destino” de Carreirinho é sem dúvida shakespeariano. “Helena, uma linda moça, filha de um rico doutor,” é apaixonada por um moço pobre “mas muito trabalhador.” A família prometeu-a em casamento a um francês abonado e a jovem inconformou-se:

Recolheu-se em seu quarto
Com o revólver carregado.

O rapaz pobre tomou uma decisão:

Ele foi ao cemitério
E na campa debruçou
É o derradeiro presente
Heleninha que te dou
Cravou o punhal no peito
Coração atravessou.

Agora duas histórinhas de cadeia: “Encerrado” de Chrisóstomo e Dalvan mostram que desgraça pouca é bobagem. O filho encarcerado é visitado pela mãe e o que acontece?

Mãezinha por que está em silêncio?
E aperta entre nós a grade gelada
Jesus levou mamãezinha
Morreu num sorriso, comigo abraçada.

“A Presidiária” de Sebastião F. Silva e Arthur Moreira é um exemplo comovedor de mau-caratismo. O marido flagrou a esposa com o amigo e suicidou-se. Ela foi condenada e o amigo urso ficou caladinho:

Foi julgada por assassinato
Mas foi suicídio
Ela era minha secretária
E eu era seu melhor amigo
Hoje ela é presidiária
E eu carrego remorso comigo.

Em “A Menina da Viola” Zé Coqueiro dá asas à imaginação e fala sobre a Menina, virtuosa da viola que desperta a inveja do dono da fazenda cuja filha não tinha nenhum talento:

A ira do milionário
Foi aumentando dia a dia
Curtindo a cruel idéia
De dar fim na pobre Maria
Foi seguindo o seu instinto
Maria mandou matar
A viola emudeceu
O povo se revoltou
Dando a ele a mesma sorte
De Maria se vingou.

“Mulher da vida” tem o arrependido subtítulo de “não faça jamais como eu fiz.” O protagonista que só pode ser pirado, se apaixonou por uma mundana e chegando um dia ao bordel invadiu o quarto onde ela estava e:

Me vi completamente louco
De arma na mão
Quebrando a porta do quarto
Atirei sem perdão.
O preço do amor
Eu peguei na prisão!

Como não pretendo ser superado pela tevê em se tratando de relação incestuosa apresento-lhes a novela “Armadilha do Destino”, onde um tal Ronaldo enviuvou, deu a filha para outra família criar e caiu no mundo enchendo a cara durante vinte anos. Até que um dia:

Mas pelo destino cruel, sem piedade
Em cidade dali muito ausente
Um casal de ébrios beijavam e sorriam
O pai e a filha, se amando inocentes

Ronaldo perguntou à “Flor do Salão” (presumo que estavam num cabaré) sobre se passado chegamos ao clímax:

Ronaldo enxergando a realidade
Gritou na ansiedade do último adeus
Perdoe-me filha, estou morrendoE fiquei sabendo que seu pai sou eu!
E ela, sentindo remorso e dor,
Com o rosto em terror, vendo o pai que morria
Não pode escapar do punhal da tristeza
Naquela surpresa, morreu pai e filha!

Viram que metáfora fantástica: “Punhal de tristeza.” E o colapso duplo? Vamos agora dar uma guinada. O Carnaval pressupõe alegria, catar-se, descontração, mas mesmo assim alguns espíritos de porco aparecem para colocar ranço na festa maior. “Coração de Bruto”, de Paris Delfino e Philadelpho lançado no carnaval de 62 dá uma alfinetada no Teixeirinha:

Que história triste seu Teixeirinha contou
Sua mãezinha, coitada
Foi brincar com fogo
Amanheceu toda queimada.
Sai, seu bruto
Tens o coração de luto.

“Panela de Pressão” de José Astholfi é um exemplo de humor negro dos melhores:

Estourou ô, ô, ô
A panela de pressão
A Rita bela se queimou
Coitada ficou toda pintada
Com o caldo de feijão
Ela que era tão boa
Com seu corpo violão
Agora não sai de casa
Vive só na solidão.

Isso é lá tema pra carnaval? “Menino Inteligente” outro muito pouco carnavalesco:

Menino inteligente
Não joga papel na rua
Um carro o atropela
E a culpa é sua.

“Mulher de Palhaço” põe por terra o frio conceito de que o “Show deve continuar”. Carnaval de 1965.

Foi uma discussão banal
Que a mulher do palhaço se matou
Num modo tão brutal
Enquanto sua função
Ele exercia no picadeiro
O povo lhe aplaudia
Mas de repente tudo mudou
E o palhaço chorou.

Garanto que após serem triturados por este espetáculo de morbidez musical os leitores vão passar três meses no mínimo só querendo escutar cantigas de roda.

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