Waldick soriano, o poderoso machão?

Ex-garimpeiro, ex-motorista de caminhão, ex-peão, ator de cinema, cantor,  compositor, memorialista, prestigiado no Norte e Nordeste, renegado no Sul, onde, apesar de tudo, foi convidado a cantar em uma das mais badaladas boates de Copacabana, quase provocando um tumulto ao pespegar impetuoso beijo na namoradinha de um grãfino que o esnobou, e manteve tempestuoso romance publicitário com conhecida dama do soçaite.
É fã de Durango Kid, de quem copiou o chapéu preto, disputadíssimo quando atirado às platéias. Ironicamente chamado de Frank Sinatra Brasileiro, com muita presença de espírito e oportunismo capitalizou a gozação, chegando até a cantar supostamente em inglês num programa de televisão. Surgiu em 1959 e já em 1960 sua composição A Carta era coqueluche nos cabarés. Ei-lo falando de si mesmo:

Sou homem do povo, gosto de farra e aprecio uma boa caninha.
Eu me visto melhor que todos os outros cantores.
São Jorge não existe senão teria barrado os astronautas.
Sou gamado em mim, me olho no espelho e me acho bacana.
Gosto de cantar e depois aconselhar o pessoal.
A fidelidade masculina não existe. Tenho duas famílias e acho natural.
Sempre tive sorte com mulher’.
Sou contra o casamento porque só favorece a mulher.
Sei escolher boas mulheres. Mulher por muito ruim que seja deve merecer consideração.
A fêmea é comandada pelo macho. Deve ser subalterna ao homem.
A mulher, quanto mais pobre mais gostosa’.
Comigo não tem mulher frouxa.

Uma análise de suas composições e de outros autores que escolhe para seu repertório nos traz uma surpresa, pois estão completamente divorciadas do perfil acima. Mostram não um denominador machista, mas um homem vulnerável, inseguro, enganado, às vezes até piegas. Desfilemos alguma de suas criações. Inicialmente a chorosa Submissão.

Eu também existo
Eu também sou gente
E mereço encontrar
Alguém para amar.

Em Perdoa meu amor novo derramamento:

Meu amor eu não suporto a sua ausência
E não canso, meu amor, de lhe esperar
Eu tenho um coração que sofre por você
E tenho tanto amor para lhe dar
Perdoa, meu amor perdoa
Este pobre que nasceu para lhe amar.

Agora um drama epistolar:

Querida alguns trechos desta carta
Foram manchados com meu pranto
É tão grande a minha dor
Despeço-me com minha alma em desepero
Subscrevo-me chorando: Adeus meu grande Amor.

Cláudia Barroso, com quem andou tendo uns destempêros, gravou Você mudou demais.

Quem foi,
Quem foi que fez você ficar tão diferente, amor
Se nada eu lhe fiz
Por que me trata assim?

A famosa Paixão de um homem não passa de uma paixão recolhida:

Amigo, por favor leve essa carta
E entregue àquela ingrata e diga com estou
Com os olhos rasos dágua, coração cheio de mágoa
Estou morrendo de amor.
Amigo eu queria estar presente
Pra ver o que ela sente
Quando alguém fala em meu nome
Eu não sei se ela me ama
Eu só sei que ela maltrata
O coração de um pobre homem
Amigo, se essa cartinha falasse
Pra dizer aquela ingrata como está meu coração
Vou ficar aqui chorando
Pois o homem quando chora tem no peito
Uma paixão.

Em Meu Grande Amor não se sente diminuído em proclamar:

Meu grande amor! Meu grande amor!
Eu  não consigo mais viver longe de ti, meu bem!

Não podia faltar a mulher demoníaca. Ela surge em Tapa na Cara.

Deus do céu, eu fui gostar de um capeta
Um inferno a minha vida se fez!
Ora essa! Ou você me respeita
Ou me deixa de uma vez!.

Outro diabo de saias:

Você é o diabo em pessoa
Não presta pra mim
Você infernizou minha vida.
Fez arder meu coração
Queimou a esperança tão querida
Nas chamas da ilusão
Purguei todos os meus pecados
Ao lhe dar amor sem fim.

Virou até objeto de ascenção social:

Eu sei que fui escada
Pra você subir
Você subiu demais
E até me esqueceu
(Minha Escada)

Em Ontem continua contemporizando:

Ontem eu não queria falar no nome dela
hoje a noite é linda, e eu sofrendo aqui por ela
Ah, eu já não sei o que será da minha vida
Não sei o que fazer, depois que ela foi embora
Ah, se eu pudesse encontrá-la nessa hora
Meu coração não sofreria tanto assim!.

Eu tenho Fé em Deus começa surpreendente:

Eu  tenho fé que em Deus
Que de você me livrar
Eu tenho fé em Deus
Que o seu dia chegará.

Depois afrouxa:

Eu tenho fé em Deus
Que você vai voltar um dia aqui
E, se voltar encontrará em mim!.

Parece Ter idéia fixa em cartas:

Querida
Faço votos que esta carta
Lhe encontre com saudade
Muita paz e muita alegria
Eu vivo aqui sofrendo
Eu vivo aqui chorando
Eu não tenho vergonha de chorar.
(Última cartinha)

O maior sucesso é um festival de lamúrias, consagrado até em para-choques de caminhões:

Pelo nosso amor, pelo amor de Deus
Eu não sou cachorro não
Para ser tão desprezado
Tu não sabes compreender
Quem te ama, quem te adora
Tu só sabes maltratar-me
E pra isso eu vou embora, etc.

Mais uma cachorrada:

Nem cachorro é maltratado
Como eu sou maltratado
Nesta casa, por você, meu bem
Assim dessa maneira
Desprezado nesta casa, meu amor, não fica bem.

A infalível Taça de fel.

A minha história talvez
Seja igual a sua
Eu tenho garra de amor
Porque quem ama se habitua
A sofrer desilusão
Chore comigo também
Beba a taça de amargura
E esqueça aquele alguém.

Lamenta não comparecer ao aniversário da ingrata:

Hoje eu amanheci tão triste
Faz um ano que você me disse adeus
Até hoje estou sofrendo, continuo sem ninguém
Sem bolo e sem vela
Ausente, só sem carinho
Chorando canto sozinho
Parabéns pra você.
(Sem Bolo e sem Vela)

Com o casamento tenta dar a volta por cima:

Quero alegria e muitos sinos
Nesta hora repicando
Lá  na igreja meu grande amor está casando
Eu não sabia que gostava tanto dela
No entanto é por ela que eu hoje estou
Aqui chorando.
Parabéns… Parabéns
Nesta hora risonha pra ela
E tão triste pra mim.

Em Covardia assume o lacrimejamento:

Quem pensa que é covardia
Eu chorar porque amei
Ame apenas por um dia
Depois diga se eu errei.

Às vezes enche-se de brios:

Aquilo que não presta
A gente joga fora
O amor que não combina
A gente manda embora.

Sempre desprezado:

Ontem eu acordei chorando
Sonhei que estava na igreja
Contigo casando.
Ninguém te amou como eu te amei
Ninguém te deu o que eu te dei
Por isso peço, volta pra mim
Senão será o meu fim.

Faz grande descoberta:

É melhor viver sozinho
Do que mal acompanhado
A pior coisa do mundo
É amar sem ser amado.

Pobre de amor, onde é vítima da discriminação econômica:

Um homem pobre como eu
Não deve amar
Eu nunca tive o direito a ser feliz
Vivo à procura dessa tal felicidade
Perdi meu tempo
Por amar quem não me quis.

Vejam seu destemor em Um homem também morre de paixão:

Qualquer dia eu vou rasgar meu peito
Para mostrar meu coração àquela ingrata
Quero mostrar o quanto estou ferido
Para ver o quanto me maltrata.

Há uma verdadeira inflação de abandonos em suas crições:

Sem despedida, sem adeus, tu partiste
Deixando meu coração, feito em pedaços
Amargurado. Oh, meu Deus, estou tão triste
Porque, amor, fugiste dos meus braços?.

Fujo de ti é o cúmulo do conformismo:

Tu me deixaste
Por alguém que não te ama
E esse alguém
Vive contigo pensando em outra
Ai, que loucura ver teu corpo
Em outros braços
Ai, tristeza ver tua boca
Em outra boca
Mas se quiseres voltar pra mim
Ainda te quero
Somente tu, que noite e dia
Eu tanto espero.

Está aí o retrato musicado de Waldick Soriano. Os leitores tirem suas conclusões; é um emotivo ou um espertalhão que fatura em cima da patente brasileira da dor de cotovelo?

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